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NÃO DEIXE A FELICIDADE, ENCONTRE-Á, PERTO ESTA DE VOCÊ!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um novo ano e uma nova educação

Isaac Roitman
Correio Braziliense

Professor aposentado da Universidade de Brasília e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Um novo ano e um novo governo inspiram novos sonhos e expectativas. O maior dos sonhos, o de o Brasil se tornar um país justo e soberano. Podemos até ter uma conjuntura econômica favorável, construída nos últimos anos. No entanto, não teremos o país que almejamos se não tivermos educação de qualidade para todos os jovens, alicerce de uma democracia. Avaliações nacionais e internacionais revelam uma lamentável realidade, principalmente na educação básica. 

Em julho, ainda candidata, Dilma Roussef participou de debate na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Após discursar, foi feita a ela a seguinte pergunta: “Se eleita, fará o possível e o impossível para que até 2014 o piso salarial do professor de ensino básico seja de R$ 4 mil?” Ela respondeu: “Não posso fazer promessas com números, pois, se não conseguir cumprir, estarei fazendo falsas promessas. No entanto, tentarei fazer o possível e o impossível para termos o piso proposto, que acho adequado”. 

Faz parte da nossa tradição candidatos a qualquer cargo eletivo prometerem lutar pela melhoria da educação. No entanto, na grande maioria das vezes, a promessa é esquecida, aparentemente por uma súbita amnésia. Mas uma esperança se esboça no horizonte. Em recente pronunciamento, o ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Fernando Hadadd, afirmou “que o salário do professor será prioridade no governo Dilma. O Plano Nacional de Educação prevê uma mesa de negociação permanente sobre o piso salarial” (atualmente de R$ 1.025). A intenção soa como música para as pessoas que acreditam que a valorização do professor é pré-requisito para a conquista de uma educação de qualidade. O piso de R$ 4 mil sugerido para 2014 deve ter ajustes na próxima década para que no ano 2022 os salários dos professores do ensino básico estejam na faixa superior dos servidores públicos. 

Paralelamente à valorização, a formação dos professores deve ser revista e adequada aos avanços tecnológicos, ao mundo moderno e aos jovens de hoje. Uma nova carreira docente deve ser estruturada, baseada no desempenho e no mérito. Em novembro de 2009 foi lançado na Universidade de Brasília o Movimento SBPC: Pacto pela educação, que congregam, além do segmento acadêmico, entidades estudantis, sindicalistas, empresariais e organizações sociais. Esse movimento propõe ações em outras dimensões importantes, para que os jovens brasileiros possam ter educação digna, que lhes permitam compreender melhor o mundo em que vivem, e sejam preparados para exercer uma profissão digna, que respeite o anseio individual.

Entre essas dimensões estão elencadas uma atualização de conteúdo nos diferentes níveis da educação: primeira infância e ensino infantil, fundamental, médio, profissional e superior. Os métodos pedagógicos devem ser revistos com a utilização das tecnologias contemporâneas de informação e comunicação. É também de fundamental importância a arquitetura escolar, proporcionando ambiente adequado para o processo cognitivo. Em adição, uma gestão escolar eficiente e profissional deve ser perseguida. A integração da escola com a sociedade, principalmente com os pais, é também fundamental. 

Esse é o desafio da presidente Dilma Rousseff e do ministro Fernando Hadadd. Confiamos nos dois, lembrando os pensamentos de Carlos Drummond de Andrade: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente”.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Arte de Viver Bem

Içami Tiba
Não exija dos outros o que eles não podem lhe dar,
Mas cobre de cada um a sua responsabilidade. 
Não deixe de usufruir o prazer,
Mas que não faça mal a ninguém. 
Não pegue mais do que você precisa,
Mas lute pelos seus direitos. 
Não olhe as pessoas só com os seus olhos,
Mas olhe-se também com os olhos delas. 
Não fique ensinando sempre,
Você pode aprender muito mais. 
Não desanime perante o fracasso,
Supere-se o transformando em aprendizado. 
Não se aproveite de quem se esforça tanto,
Ele pode estar fazendo o que você deixou de fazer. 
Não estrague um programa diferente com seu mau humor,
Descubra a alegria da novidade. 
Não deixe a vida se esvair pela torneira,
Pode faltar aos outros... 
O amor pode absorver muitos sofrimentos,
Menos a falta de respeito a si mesmo! 
Se você quer o melhor das pessoas,
Dê o máximo de si,
Já que a vida lhe deu tanto. 
Enfim, agradeça sempre,
Pois a gratidão abre
As portas do coração. 
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Extraído do blog: ASSIM SOMOS

Ciência anêmica

O autor do artigo ressalta um pesquisador que evidenciou erros em pesquisas médicas e propõe que a atividade de motivo semelhante seja aplicado nas pesquisas nas áreas afetas à Administração.
Vale e pena ler.


Ciência anêmica
Thomaz Wood Jr.

A mídia de massa adora a ciência (e a pseudociência). Em uma semana, revela a receita para retardar a velhice; na seguinte, mostra o poder da dieta A ou B para evitar doenças cardíacas; depois, demonstra os inegáveis impactos positivos do consumo da raiz X ou do cogumelo Y; e na sequência prova que a exposição ao sol provoca câncer ou que a falta de exposição ao sol provoca câncer.

O apetite dos leitores por novidades parece ser insaciável. A cada nova moda, o ciclo se repete: comprar, consumir e descartar. A capacidade dos jornalistas para fornecer novidades parece ser inesgotável. A circulação das revistas, a venda das cotas de propaganda e seus empregos dependem de sua competência de manter um permanente estado de frenesi novidadeiro. Em suma, trata-se de um sistema orientado pela produção, que além de mover a máquina da mídia, faz girar a indústria do bem-estar, com seus remédios, vitaminas, tratamentos, técnicas e especialistas. Mas como se sabe, nem tudo que reluz é ouro. Aliás, neste caso, quase nada do que reluz é ouro.

A bem da verdade, os jornalistas são apenas os disseminadores das novidades, meros intermediários. Na origem do processo está uma respeitada instituição chamada ciência ou, especificamente, a pesquisa médica, cujo nobre objetivo é descobrir as causas e curas para os males do homem.

Ocorre que a pesquisa médica é também uma grande instituição e, como ocorre com instituições em outras áreas de conhecimento, está hoje organizada na forma de um aparato bilionário, que compreende centros de pesquisa, estruturas de ensino, revistas científicas, eventos e milhares de pesquisadores. Pois essa instituição segue uma lógica própria. Para sobreviver e progredir em suas carreiras, os pesquisadores devem gerar trabalhos de impacto e publicá-los. É a famosa norma publish or perish (publique ou morra). O mesmo vale para os centros de pesquisa. Os mais famosos atraem doações e financiamentos. Assim, estabelece-se, também na origem do processo, um culto de novidades e de ideias de grande impacto. Até aqui, tudo bem. O progresso humano depende de nossa capacidade de aumentar o conhecimento e inovar. No entanto, também na pesquisa médica, nem tudo que reluz é ouro.

John Ioannidis é um pesquisador conhecido e respeitado na área. Sua especialidade é a meta-análise: o estudo de outros estudos. Ele temdedicado sua carreira a realizar trabalhos científicos para demonstrar as inconsistências e a fragilidade da pesquisa médica. Em matéria recente, veiculada na revista The Atlantic, David H. Freedman traça seu perfil e conta suas desconcertantes descobertas. Ioannidis revelou que o número de erros que ocorrem na pesquisa médica é impressionante: desde a formulação dos objetivos da investigação e a escolha do método empregado até a forma de apresentação de resultados e a publicação de artigos.

Em um de seus mais célebres estudos, o pesquisador analisou 49 artigos publicados nas mais respeitadas revistas científicas, reconhecidos pela comunidade acadêmica como trabalhos de excelência. Entre esses, 34 tiveram seus resultados revistos e nada menos do que 14 (41%) foram considerados errados ou muito exagerados. Se os melhores artigos apresentam tal taxa de erro, imaginemos o resto!

grande problema é que as conclusões erradas chegam aos médicos, que passam a fazer prescrições erradas. As conclusões erradas chegamtambém à mídia, que induz mudanças de hábitos entre seus ingênuos- leitores. Essas mudanças, na melhor das hipóteses, não causam efeito algum e, no pior caso, geram efeitos danosos para a saúde dos incautos. Pior ainda: frequentemente, premissas erradas se estabelecem como práticas correntes e levam anos para ser alteradas. Não faltam casos de remédios que foram aprovados em testes clínicos, passaram a ser largamente prescritos, para depois serem retirados do mercado.

Apesar dos resultados de suas pesquisas, Ioannidis continua acreditando que a ciência é uma atividade nobre. Mas é também uma atividade de “baixa eficiência” e não se pode esperar que os cientistas estejam sempre certos. É com erros e acertos que a ciência progride e, na verdade, apenas uma pequena parte das pesquisas realmente levará a impactos positivos sobre a qualidade de vida.

As conclusões de Ioannidis deveriam servir de inspiração e alerta para outros campos científicos, especialmente para a Administração de Empresas, que não se cansa de inventar e disseminar panaceias para todos os males, reais ou imaginários. Mais rigor, menos ambição e mais humildade ajudariam o campo a avançar.

Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração. thomaz.wood@fgv.br

A mente de nossos filhos

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

“Uma refeição por dia em família pode diminuir em até 80% o consumo de drogas entre os filhos – e também ajuda a combater a violência na rua, na escola e em casa.” A afirmação é do psiquiatra infantil Fábio Barbirato, autor do livro A mente do seu filho. Se as crianças aprendem por imitação, que modelos nós, os pais e mães modernos do século XXI, fornecemos em casa? O que ensinamos a nossos filhos? Temos tempo de transmitir algum valor ou de escutá-los?


Nunca foi fácil educar. A fronteira entre a autoridade e a compreensão é um aprendizado. Impor regras pode descambar para a repressão, a violência verbal, moral e física. Ser amigo pode descambar para a condescendência, a tolerância excessiva, a falta de limites. Qualquer dos extremos ajuda a formar crianças e adolescentes desequilibrados, inseguros, arrogantes e antissociais. Jovens batem nos colegas da escola, matam a pauladas torcedores de times de futebol adversários, espancam prostitutas, agridem homossexuais com lâmpadas fluorescentes, incendeiam mendigos, suicidam-se no trânsito. Ou mergulham em drogas que incapacitam para sempre, como o crack. “Infelizmente, de duas décadas para cá, os pais, para tentar se aproximar dos filhos, resolveram se tornar amiguinhos. Saem para a noite com os filhos, sentam em uma mesa de bar e bebem todas com eles”, diz Barbirato. Mães se vestem e falam como se tivessem a idade das filhas.
Você é daqueles que ensinam a seu filho que só os fortes sobrevivem? Quando seu filho é irresponsável, você suborna o policial que o flagrou? Minimiza e diz “Tadinho dele, não queria fazer aquilo”, ou pior, “Os outros mereciam mesmo”? Ser amigo é uma coisa. Ser cúmplice é outra. O bullying é apenas uma expressão de violência juvenil. O nome vem de bully, algo como valentão, na tradução do inglês. Nos episódios de bullying, há sempre um desequilíbrio de poder, que pode ter começado em casa, com a sensação de impunidade.

Por que dar um carro superpotente a alguém que acaba de fazer 18 anos? Sua prudência ainda está se desenvolvendo, diz Barbirato. “O menino pensa: meu pai bebe um pouquinho quando saímos e dirige – por que eu também não posso beber um pouquinho, como ele?” Nos anos 60, o jovem buscava nas drogas ilícitas algo para transcender. Hoje, sem causa ou ideologia, o jovem quer é ficar doidão para reduzir a ansiedade ou a melancolia, e por isso submerge no crack. É a crença da onipotência. E ele não consegue mais sair.

Se as crianças aprendem por imitação, que modelo os pais e mães modernos fornecem em casa?
Culpar o aumento de divórcios é uma saída simplista e preconceituosa. “Não são as separações amigáveis que concorrem para a violência. Falo sempre dos filhos daqueles casais que não sabem mais conversar, numa casa onde tudo acontece aos berros ou agressões. Atribuir a culpa à mãe que hoje precisa trabalhar fora é outra visão ultrapassada e machista demais.” Construir um senso de família vai além. Para educar, é preciso ter educação.

Já se tornou clichê valorizar a qualidade, e não a quantidade, de tempo com os filhos. Não há base estritamente científica para se afirmar que uma refeição por dia em família contribua para reduzir o desajuste dos filhos. Mas tendo a concordar com Barbirato. O convívio perdido à mesa é irreparável.

Sou mãe de dois filhos, separada, e lembro quando o mais velho, aos 18 anos, reclamou abertamente: “Mãe, nós não fazemos juntos nenhuma refeição por dia durante a semana”. Isso foi há uma década. Tive sorte, porque ele me chamou a atenção e porque desejava a minha companhia. Antecipei a hora de chegar do trabalho para poder jantar com os dois. É um momento para conversar sobre o dia. Confidências emergem. O diálogo se mantém olho no olho, e não por SMS ou e-mail. Temas polêmicos são discutidos. É hora de falar de valores, compartilhar verdades, mesmo incômodas. De preferência, com o celular desligado! Sem tuitar, sem dispersar. A indiferença com o outro me parece hoje um grande desagregador familiar. O vício da conexão nos desconecta uns dos outros dentro do que um dia se chamou de lar.
Em 2011, jante ou almoce com seus filhos em casa – e não só aos domingos.

RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Em busca do BRASIL de longo prazo

VALOR ECONÔMICO


Se há um consenso entre os economistas brasileiros é o de que o país tem poupança insuficiente, um baixo nível de investimentos e uma preferência doentia pelo curto prazo. Daí a boa receptividade, ainda que acompanhada de certo ceticismo, com que se recebeu, na semana passada, o pacote de medidas do governo para estimular o financiamento privado a investimentos de longo prazo, reduzir a inadimplência do setor rural e incentivar o mercado de títulos vinculados a créditos imobiliários. Não há dúvidas sobre a necessidade das medidas; a questão é se serão eficazes e suficientes.

O conjunto de medidas anunciado na quarta-feira combina mudanças legais para facilitar a emissão e transação de títulos de longo prazo. Para isso, prevê redução de impostos que, pelos cálculos do Ministério da Fazenda, deve representar uma renúncia de R$ 162 milhões em receitas do governo federal no primeiro ano. A intenção é canalizar até R$ 350 bilhões em recursos do setor privado para financiamentos de prazos mais longos. É parte do total necessário para assegurar a meta de elevação do nível de investimentos, dos atuais 19% para 23% do Produto Interno Bruto (PIB). O que não for obtido com o mercado de capitais seria garantido com o reinvestimento dos lucros das empresas.

Explícito nas medidas do governo está o recado de que a tradicional carência de financiamento de longo prazo no Brasil não poderá mais ser atendida pelo Estado, como nos últimos anos, em que o Banco Nacional Econômico e Social (BNDES) foi convocado para dar o fôlego requerido aos investimentos no país, amparado pelas mãos generosas do Tesouro Nacional. O BNDES manterá um papel importante, porém, autorizado a emitir letras financeiras para complementar com recursos do mercado privado suas fontes de financiamento. E decidido a emitir, ele próprio, debêntures com taxas prefixadas da BNDESPar. 

O BNDES também terá participação no fundo a ser criado para comprar e vender, no mercado secundário, os títulos de longo prazo destinados a investimentos em infraestrutura e compra de máquinas e equipamentos. E, para estimular o setor privado a consolidar um mercado secundário para os novos papéis de longo prazo, vai oferecer títulos de sua carteira para aluguel, por instituições financeiras interessadas em se tornar "formadoras de mercado". Foi a maneira encontrada de estender o horizonte dos financiamentos, operando em um mundo de expectativas de ganho imediato e de incertezas remanescentes.

No esforço para estimular o financiamento privado, o governo deixou de lado a preocupação com o ingresso de moeda estrangeira, que tem sustentado a cotação valorizada do real e minado a competitividade das exportações brasileiras: até os investidores estrangeiros foram brindados com a redução de impostos - para zero no caso de pessoa física e para 15% no de pessoa jurídica para debêntures e projetos de infraestrutura. As pessoas físicas não residentes não pagarão imposto em títulos de longo prazo com certas características fixadas pelo governo.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teve a sinceridade de dizer que o êxito das medidas dependerá de uma política econômica capaz de reduzir as taxas de juros dos títulos públicos, aplicação cheia de garantias e muito bem remunerada que compete deslealmente com as alternativas de investimento - e que continuará competindo, enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) não tiver confiança para baixar as taxas. É evidente, ainda, que a adesão do setor privado à tarefa de financiar as perspectivas de longo prazo do país não será capaz de dispensar a presença do BNDES, que já prepara um novo pedido de recursos ao Tesouro, algo da ordem de R$ 60 bilhões.

Coutinho poderia comentar também outro requisito que sabe ser indispensável para estimular o setor privado a financiar, no volume necessário, as obras de grande porte demandadas pelo país. Sejam as obras destinadas à Copa do Mundo e à Olimpíada, sejam as exigidas para reduzir o fosso de competitividade em que se afunda a indústria brasileira, esses investimentos exigem mecanismos de garantia e de seguro de longo prazo que ainda não são suficientemente disponíveis no Brasil. Esse anúncio e o reforço do BNDES, o governo Lula deixa entre os restos a pagar, na conta da presidente Dilma Rousseff.

Cartórios, decretos e diplomas

Roberto DaMatta
O GLOBO

Em 1968, bastou um humilde requerimento para a Universidade de Harvard me enviar pelo correio o diploma de Master of Arts em Antropologia. Dois anos depois - após escrever uma tese - recebi, com a mesma ausência de pompa, o título de doutor em Filosofia (o tal Ph.D), que nos anos 70 causava um furor invejoso no Brasil - este país das papeladas e dos papelões. Das carteiras de identidade, alvarás, cartas de motorista, diplomas, certificados, títulos, atestados e certidões que, num sentido preciso e ibero-kafkiano, revelam que a papelada - a carteira e o diploma - conta mais que nós. Essa é a lógica dos decretos que aumentam absurdamente o salário dos parlamentares. Eles revelam que a lei não tem nada a ver com a economia moral da democracia. A que condiz com uma concepção do serviço público como expressão de uma aliança positiva entre Estado e sociedade. Pois, no Brasil, é a sociedade que sustenta um Estado absurdamente autorreferido e perdulário. Esse é, sem dúvida, o traço distintivo de um presidente que sai registrando a obra em cartório!

Quando recebi o canudo, falei sobre essa informalidade com colegas americanos. A resposta foi dura para os meus ouvidos de brasileirinho socializado para ser um aficionado de títulos: o que vale não é o diploma, mas a obra. Uma outra experiência notável foi ter que reconhecer a firma do presidente da Universidade de Harvard no consulado brasileiro. Sem tal aval, que meus colegas harvardianos achavam absurdo, o diploma não poderia ser levado em conta na universidade que me havia licenciado para a especialização na Harvard. Eis o nosso paradoxo ou ardil 22. Sem um papel você não pode ter o papel que precisa e sem esse papel, você não existe. A vida começa com um papel e você não nasce de uma trepada, mas de uma ida a um cartório.

Pior que isso, só a diplomação de Dilma Rousseff, eleita pelo povo a primeira mulher a ocupar a Presidência no Brasil. Pela mesma lógica o voto te fez presidente, mas sem um alvará você não pode exercer o poder que lhe foi dado pelo povo. Essa é uma das provas mais cabais do nosso perverso amor às papeladas que engendram papelões. O povo elege, mas, sem o alvará do Supremo, o eleito não é nada. Vejam o absurdo: depois de uma eleição nacional, alguém tem que ungir os eleitos com os santos óleos da burocracia, tal como os papas faziam com os imperadores na antiguidade. E depois dizem que eu idealizo e invento um detestável "Brasil tradicional" na minha modesta e ignorada obra antropoliterária.

Faço questão de notar, porém, que pouco adianta denunciar esse gosto pela papelada se o drama nacional continua sendo gerenciado por esse importante e pouco discutido teatro de burocracias e formalidades. Pois, entre nós, o documento vale mais do que vida e a história. O alvará que confirma, também libera os candidatos corruptos, condenados pela Lei Ficha Limpa na base de detalhes processuais. A gramática, como sempre, elimina a verdade do discurso. Por isso gostamos tanto dos diplomas que dizem que somos o que não somos.

Entrementes, porém, já sucede um entretanto: Lula - que vai saindo como nunca nenhum presidente deixou o cargo neste país - manda registrar em cartório os seus feitos como presidente, exagerando aqui e ali nos eventos e deixando de lado o mais importante: o fato de ter sido o primeiro mandatário de esquerda eleito no Brasil; o fato de ter sido o primeiro presidente de um partido ideológico mas que governou como um coronel político tradicional, aliando-se sem pejo ou dúvida aos outros coronéis do nosso sistema de poder. Que o seu partido, dito o mais moderno do Brasil, fez um mensalão e ama os cartórios luso-brasileiros onde tudo cheira a mofo e não há movimento, mas somente papelada. O salvador dos pobres consolida o capitalismo financeiro; o autêntico operário - aquele que seria a voz do povo destituído - foi o mais mendaz mandatário da história do nosso país. O registro em cartório prova como somos mais moldura do que quadro; como gostamos mais do vestido do que da dama; como preferimos a forma ao conteúdoE como pensamos que a verdade é mesmo feita de papeladas e registros com firma reconhecida.
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A importância de solenizar

Luiz Marins


    Uma grande empresa decidiu, após muitos estudos e consulta a seus funcionários, montar um gabinete dentário completo dentro da fabrica. Um dentista foi contratado e, sem qualquer cerimonia especial, num certo dia, o dentista começou a atender os operários.

    Conversando com esse dentista, ele me disse que sentia uma “frieza” por parte dos funcionários. Fazia oito meses que o gabinete dentário estava funcionando. Ele mesmo tinha andado várias vezes pelas oficinas da fábrica colocando-se à disposição dos funcionários que pareciam, segundo ele, não valorizar o fato de a indústria ter colocado um gabinete dentário somente para atendê-los.

    Por sua vez, a diretoria da fabrica dizia: “Não adianta fazer nada para os operários. Gastamos milhões de reais num gabinete dentário completo e os operários nem valorizaram, nem apareceram para fazer tratamento. E é tudo gratuito!”

    Quando fui comunicado dessa situação, perguntei logo como foi que o gabinete dentário foi colocado na indústria. A resposta veio simples e direta. “- Reformamos a sala, adquirimos os equipamentos e contratamos o dentista e mandamos um memorando para todos os chefes e colocamos um aviso no quadro de avisos: - ‘A PARTIR DA PRÓXIMA 4ª FEIRA HAVERÁ UM DENTISTA ATENDENDO NO NOVO GABINETE DENTÁRIO. AS CONSULTAS E TRATAMENTOS SÃO GRATUITOS. FALE COM SEU SUPERVISOR A RESPEITO.’”

    Confesso que foi difícil convencer os diretores da fábrica sobre qual tinha sido o erro cometido. 
 Imediatamente propus que fosse feita uma cerimônia de “Inauguração” do Gabinete Dentário, com a presença de todos os funcionários (num final de expediente ou troca de turma) e com as seguintes providências adicionais e absolutamente necessárias:

• Colocar uma placa como o “nome” no Gabinete. Esse nome, deveria ser escolhido pelos próprios funcionários com antecedência para que no dia da inauguração a placa já estivesse pronta e colocada;
• Cobrir a placa com um pano com as cores da empresa, para que fosse descerrada pelo presidente da empresa (que deveria comparecer no dia da inauguração), juntamente com o funcionário mais antigo, o funcionário mais novo, o dentista e o gerente da fábrica. O representante do Sindicato ou da Comissão de Fábrica, também deveria participar do descerramento da placa;
• Colocar uma fita na entrada do Gabinete Dentário para ser desatada pela operária mais antiga, pela mais nova, juntamente com o presidente da empresa;
• O presidente da empresa deveria fazer um discurso;
• Um representante dos operários deveria fazer um discurso;
• Após o descerramento da placa e desatamento da fita, todos seriam convidados a visitar o Gabinete Dentário, percorrendo suas instalações;
• Após a cerimônia (bastante formal) haveria alguma coisa para comer e beber, servido aos operários.

    Os diretores da indústria disseram sentir-se envergonhados de fazer tudo aquilo. Sentiam-se como “políticos em campanha”. Expliquei que tudo aquilo era absolutamente necessário para que todos os beneficiados “incorporassem” o novo gabinete dentário.

    Tudo foi feito como pedi. O sucesso foi enorme! 
    Nas semanas e meses que se seguiram, todos os operários comentavam o novo benefício. O Sindicato dos trabalhadores enviou uma carta à empresa elogiando a iniciativa. O dentista teve um trabalho oposto ao que sentia anteriormente: teve que organizar um horário para atendimento dos muitos operários que agora desejavam tratar de seus dentes.

    Afinal, o que aconteceu?
    Será que os operários não sabiam da existência do gabinete dentário antes da sua  “inauguração”, que se deu oito meses depois de aberto ao atendimento?

    Uma das coisas mais importantes no Brasil é “solenizar” ou “cerimonializar” os atos na empresa. Todos os atos importantes, para serem vistos como realmente importantes, precisam ser cerimonializados,  solenizados. E como todo “rito” deve ter  “discurso e comida ”.

    Não há cerimônia em nenhuma sociedade que não tenham esses dois componentes essenciais. “Ouvindo e comendo ou bebendo”  é que as pessoas realmente introjetam o fato ou acontecimento passando a incorporá-lo definitivamente. Assim são nos casamentos, batizados, aniversários, etc.

    Assim, um dos mais sérios erros que as empresas podem cometer é a de simplesmente colocar para funcionar as coisas sem a devida atenção ao “como” essas coisas são colocadas para funcionar.

    Demos o exemplo de um gabinete dentário que é um espaço físico, com equipamentos, etc. No entanto, essa mesma orientação vale para qualquer outra coisa. Por exemplo, a adoção de um novo uniforme, a adoção da obrigatoriedade do uso de crachás,  a incorporação de novos veículos numa frota, etc. etc.

    No Brasil, com o homem brasileiro, nada dever ser feito sem se estudar o “como” será introduzido na empresa, sob pena de ver-se a sua utilização minimizada, desvalorizada ou mesmo malversada. Na Europa, nos Estados Unidos, onde a sociedade não é oral e auditiva como a brasileira, essas providências não são fundamentais. Porém, o homem brasileiro é diferente e precisa ser tratado diferentemente pela empresa.

    Experimente “solenizar” e “cerimonializar” algumas coisas essenciais na sua empresa daqui para frente. Você verá a diferença. Você verá que as pessoas passarão a realmente “incorporar” as mudanças ocorridas e passarão a segui-las e atendê-las mais facilmente. A comunicação de fato se estabelecerá. Os objetivos ficarão mais explicitados e a importância do fato será realmente sentida e avaliada. Tenho visto muitas empresas perderem tempo, recursos, energia, por não compreenderem essa verdade antropológica do homem brasileiro. Não cometa o mesmo erro. Experimente.
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Cuidados do corpo e da alma

 Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo

A propósito de meu último artigo, Liberdade e doença, recebi várias manifestações insistindo na importância da liberdade de escolha, da responsabilização individual e contra a usurpação dos direitos individuais em nome do politicamente correto. A lista do politicamente correto é longa, sendo conduzida tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais, não havendo aqui nenhum monopólio partidário.
O Brasil tem vivido nos últimos anos uma invasão do politicamente correto. Tal invasão vem acompanhada de uma série de medidas legais, sejam leis propriamente ditas, sejam atos administrativos, como decretos, resoluções, portarias e instruções normativas, que coíbem, cada vez mais, a liberdade de escolha. O politicamente correto apresenta-se, então, como se fosse, moralmente falando, uma forma do bem que estaria enfrentando o mal, no caso, o mau comportamento. Tivemos, assim, medidas contra o álcool e o fumo apresentadas como se fossem a expressão mesma da virtude.
Sua ampliação já é cogitada para vários alimentos considerados daninhos ao organismo, como certas formas de gordura, podendo atingir desde chocolates e doces em geral até sorvetes, passando por carnes.
Também já tivemos resoluções que dispõem como indivíduos podem comprar medicamentos que não necessitam de receituário médico: só atrás do balcão, mediante atendentes, e não na frente, segundo o critério de escolha de cada um. Mais recentemente, tivemos medidas que obrigam o uso de um novo tipo de receituário médico para a compra de antibióticos ou, na esfera profissional, o registro impresso do ponto eletrônico para empresas, como se patrões e empregados não fossem suficientemente responsáveis e maiores de idade para estabelecerem entre si, livremente, acordos de trabalho. Até a ideia de uma lei visando a disciplinar a relação entre pais e filhos, a chamada lei da palmada, exibe essa invasão estatal na esfera propriamente familiar. Um leitor me alertou ainda sobre o uso doravante obrigatório de tomadas brasileiras, como se tomadas de outros países não pudessem ser escolhidas livremente por seus usuários.
Observe-se que o Estado passa a se ocupar das mais diferentes esferas da vida individual, familiar e empresarial, determinando, segundo ele, o que é melhor para cada um, como se tivesse o saber da "virtude" em sua cruzada contra o "vício", ou do bom uso de determinados instrumentos em detrimento de outros. Começa a imiscuir-se, literalmente, em tudo. Trata-se do dito cuidado do corpo, sob a forma da "saúde", da "boa" educação em lugar da "má", da "boa" relação trabalhista em lugar da "má", da "boa" família em lugar da "má", e até mesmo da "boa" tomada em lugar da "má". Não convém observar essas medidas apenas individualmente, porque perdemos, assim, a visão do conjunto.
Individualmente, alguns poderiam até estar inclinados a aceitar uma ou outra dessas medidas, mas o problema não reside aí, porque o seu significado só nasce de sua visão enquanto políticas públicas feitas com o intuito de restringir as liberdades individuais.
Note-se que se trata de políticas públicas que visam a cuidar do corpo dos cidadãos, das relações entre empregadores e empregados e mesmo do uso de certos equipamentos. É a relação da pessoa consigo mesma, com os outros, em geral, e do tipo profissional. Acontece que esse cuidado com o corpo individual começa a passar para o corpo coletivo, o das relações interpessoais e profissionais, alcançando, inclusive, a alma dos indivíduos. Estes passam a ser ensinados como se devem comportar, como obedecer, como abandonar o senso crítico e como se desresponsabilizar.
O processo passa, então, para as mentalidades propriamente ditas, para a "alma", cujo controle se faz, hoje, pela formação e pelo domínio da opinião pública. A omissão individual começa a ser compensada por medidas coletivas que, cada uma individualmente, se tornam progressivamente aceitáveis, adotando a forma de um conjunto que cerceia os direitos individuais. Logo, não é estranho a esse processo que medidas sejam igualmente tomadas com o propósito de cercear a liberdade de imprensa e o uso da publicidade. Consoante com essa visão, iniciativas são propostas de controle de conteúdo da mídia, visando a coibir e multar notícias e ideias que incitem os "maus" comportamentos. Evidentemente, a dita nova legislação se colocaria do lado do "bom" comportamento, do "bom" cuidado da alma e do corpo, contra os que se colocam na posição contrária. O controle dos meios de comunicação é um meio de controle das mentalidades, da formação da opinião pública e da "alma".
No linguajar de Locke, no século 17, "nenhum homem pode ser forçado a ser rico ou saudável contra a sua vontade". Não é essa, nem deveria ser, a função da lei e do Estado. Os homens devem ser entregues à sua própria consciência, o que significa dizer à sua própria liberdade, à sua capacidade racional de discernimento. Nenhuma instância se pode colocar nessa posição, salvo se seu objetivo for aniquilar o livre-arbítrio. Os cidadãos, para terem seus direitos assegurados, devem atentar para essas formas de controle, que, sob o manto do politicamente correto, ameaçam esses mesmos direitos. O excesso de regulamentação é somente uma de suas faces. A outra é o surgimento de formas de autoritarismo que nascem no seio de Estados ditos democráticos, com a peculiaridade de se dizerem "democráticas".
O politicamente correto é uma expressão dessa face autocrática que se mascara moralmente, com o intuito de que o cidadão aceite tal imposição como se fosse, de certa maneira, "sua". A "moralidade" assumida pelo Estado procura criar entre os cidadãos a imagem - e a mensagem - de que essas proibições são saudáveis, são boas em si.
A democracia corre o perigo de ser minada por um "autoritarismo democrático".

A verdade do povo

Luiz Fux
O Globo

O processo é um instrumento de realização da justiça posto à disposição do povo que clama por esse valor, na justa impossibilidade de fazê-la pelas próprias mãos. A verdade de quem pede justiça e de quem se defende, sintetizada no processo, vem definida na sentença: verdade do juiz. A injustiça causada por um cidadão contra o outro é má, mas a injustiça do sistema em si, já o dizia Hans Kelsen, é intolerável. 

O Estado, no desígnio de fazer com que os cidadãos lesados em seus direitos não sintam os efeitos da transgressão, coloca à disposição do homem o processo, para acalentá-lo diante da dor moral da injustiça e, ao mesmo tempo, evitar a vingança privada. A consequência natural dessa amálgama é a de que, quanto mais rápida a solução, mais célere será a reconstrução do tecido social abalado pelo litígio. 

No âmbito da Justiça, há momentos em que o povo pede; há aqueles em que suplica; e o derradeiro, em que o povo grita! A sociedade, através de um grito cívico, exigiu uma justiça mais rápida. A prova cabal restou demonstrada pelas dezenas de milhares de manifestações recebidas pela comissão encarregada da elaboração de um novo código e pelo Senado, por isso que a sociedade laica foi ouvida através de mais de 15.000 e-mails. 

A comunidade científica compareceu em peso às audiências públicas realizadas para aprimoramento social do Código, oferecendo cerca de mil sugestões. 

Juristas de renome foram consultados, o primeiro deles o professor Barbosa Moreira, que por motivos particulares não pode participar dos trabalhos diretamente, mas fez-se presente na pessoa dos professores catedráticos que compunham a comissão, seus eternos discípulos: os drs. Humberto Theodoro Junior, Adroaldo Furtado Fabrício, Tereza Arruda Alvim Wambier, Paulo Cesar Pinheiro Carneiro, José dos Santos Bedaque, José Miguel Garcia Medina, entre outros. 

Esse número indicador da participação social de tantos segmentos importantes, da academia científica aos Tribunais Superiores do país, perpassando pela notável advocacia, como o escritório Sérgio Bermudes, que através do talento de seu sócio Marcelo Fontes participou com brilhantismo da audiência pública no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, permitiu ao Senado Federal concluir ter sido o projeto do Código de Processo Civil o mais popular de todos os tempos, construído segundo os mais expressivos princípios democráticos, representando o timbre ideológico do cidadão mais simples ao mais prestigiado jurista. 

A fusão de tantas manifestações gerou um código brasileiríssimo, coadjuvado pela adoção dos mais modernos instrumentos recolhidos das recentes inovações dos direitos alemão, inglês, italiano, português e espanhol. A novel Justiça que se apregoa, inaugura-se pela harmonia, ao indicar deva o processo iniciar-se por uma conciliação entre os cidadãos em conflito, otimizando o relacionamento social. Por seu turno, à míngua de um acordo inicial, o modo de pleitear a justiça final tornou-se mais simples, sem armadilhas, de modo que os litigantes, ricos ou pobres, habituais ou débeis, lutem com as mesmas armas. 

Por fim, a decisão judicial passa a ser revestida de autoridade e de previsibilidade, porquanto a jurisprudência oriunda dos casos julgados deve velar para que a igualdade perante a lei reflita-se na igualdade de todos perante a Justiça. 

Enfim, o novo Código pertence à nação brasileira e perfaz a "justiça que o povo quer". E o que é que o povo quer? Um processo justo, uma resposta judicial sem tardança e a verdade de que lhe é assegurado o alento judicial no prazo razoável prometido pela Constituição. 

A Comissão que erigiu o novo Código e o Poder Legislativo, através da comunicação lavrada com a sociedade, entenderam, assim como Antônio Aleixo, in "Este livro que vos deixo...", que o povo "disse as suas verdades". O Novo Código de Processo Civil, pela força da transparência de seu texto, logra responder às justas expectativas sociais encartadas na beleza das palavras do poeta: 



Porque o povo diz verdades,

Tremem de medo os tiranos,

Pressentindo a derrocada

Da grande prisão sem grades

Onde há já milhares de anos

A razão vive enjaulada.



Vem perto o fim do capricho

Dessa nobreza postiça,

Irmã gêmea da preguiça,

Mais asquerosa que o lixo.



Já o escravo se convence

A lutar por seu prol

Já sabe que lhe pertence

No mundo um lugar ao sol.


LUIZ FUX é ministro do STJ e presidente da Comissão de Juristas para a elaboração do Novo Código de Processo Civil.

Viver corretamente

JOÃO UBALDO RIBEIRO 
O Estado de S.Paulo

Não sei bem a que se pode atribuir a crescente moda de intervir na vida pessoal do cidadão brasileiro. Inclino-me a acreditar que isso se deve à falta do que fazer de um número cada vez maior de burocratas e tecnocratas. Todos eles detêm certezas sobre tudo o que julgam ser de sua alçada. Em matérias "técnicas", não há espaço para posições divergentes. Afinal, a técnica provém da ciência e a ciência fornece certezas. E essas certezas são tão poderosas que devem sobrepor-se até mesmo aos valores de indivíduos ou coletividades. O conceito de normalidade, tão enganoso não só científica como filosoficamente, parece para elas assente e inequívoco.

Claro que tais certezas, que amiúde se expressam em arrogância, autoritarismo e condescendência enfarada, não são certezas de coisa nenhuma, são apenas ignorância e estreiteza de horizontes em ação. O resultado é que nos vemos ameaçados a todo instante de sermos obrigados a nos comportar "normalmente" ou, pior ainda, corretamente. Volta e meia, alguma autoridade baixa regras sobre como devemos fazer compras em farmácia, que tipo de tomada nos convém usar ou que equipamento passou a ser compulsório nos automóveis. Com o nosso tradicional temperamento de rebanho ovino e de "tudo bem, contanto que não me incomode diretamente", vamos deixando que esse negócio se espalhe e tome conta de nossa vida.

Além do combate ao uso do tabaco e do álcool, creio que devemos esperar, a julgar por sinais aqui e ali, que nos ditem o que podemos comer. Em cantinas escolares, isso já é feito. Mas creio que os nossos mentores, protetores e tutores não considerarão seu trabalho concluído enquanto o pai que dê uma gulodice açucarada a seu filho não puder ser denunciado e enquadrado e perder o pátrio poder, se persistir em seu comportamento reprovável. Aliás, imagino que, com a vigência da lei da palmada, cedo chegará o dia em que pais e mães denunciados por palmadas desobedecerão a ordens judiciais e instruções de psiquiatras para serem corretos e normais e, portanto, o Estado os meterá na cadeia e lhes tomará os filhos, que terão seu futuro garantido, sob a guarda eficiente, carinhosa e científica de instituições modeladas na Funabem.

Assim como os fumantes oneram a saúde pública com as doenças causadas por seu feio vício, também o fazem os obesos, com seus problemas cardíacos, sua diabete, sua hipertensão. E não se pode esquecer que, caso essas pessoas de conduta e aparência condenáveis tenham filhos, estarão delinquindo ainda mais, pelo mau exemplo. Espero que em breve um dos mil braços do governo estabeleça padrões alimentares a que as famílias terão que obedecer, pelo bem de sua saúde e sob pena de suas compras de alimentos só poderem ser feitas sob a orientação de um técnico credenciado. Claro, ovo já foi um horror e hoje é permitido e até encorajado. Margarina já foi aclamada como o substituto sadio da manteiga e hoje é execrada. São as verdades científicas.

Ao contrário do que chegou a divulgar-se, os defensores da censura a Monteiro Lobato não foram derrotados nem alteraram suas posições. O livro pode ser lido, mas sob a supervisão de um professor com qualificações específicas. Ou seja, em última análise, um técnico em leitura literária, um guia. Diretamente, sem intermediários, o livro não pode ser lido. Acredita-se que existe a maneira certa de ler, entender e apreciar um determinado livro. As maneiras que não se encaixem no padrão correto são, por consequência, errôneas e inadmissíveis. Daí se passará, imagino eu, à exigência de que os livros, não somente na escolas, mas entre o público em geral, só possam circular depois de lidos pelos técnicos, que escreveriam uma espécie de bula ou modo de usar, para que os leitores apreendessem corretamente a leitura. Claro, não é censura, é apenas a aplicação da verdade científica ou objetiva.

Aliás, falando em livros há outras novidades, ainda no terreno da cultura. O plano é mudar a lei dos direitos autorais. Os proponentes das mudanças dizem que não estão de fato querendo mudar nada, porque todas as suas ideias estariam contidas em dispositivos legais já vigentes. Pergunta-se, nesse caso, por que é preciso fazer uma nova lei. Não sei bem, mas sei, pelo que já me foi contado, que a produção de cópias de livros ou textos sem pagar direitos autorais será permitida, contanto que para fins educativos. Ou seja, qualquer coisa, ainda mais no mangue educacional que é o Brasil. O sujeito escreve um livro que é adotado em classe e esse livro pode ter praticamente uma edição à parte, pois há máquinas que possibilitam isso, copiando um livro inteiro e cuspindo do outro lado volumes já encadernados, com capa e tudo. O autor não vê um centavo, embora os produtores da edição pirata se remunerem pelo seu trabalho de "difusão" e, principalmente, os fabricantes das máquinas ganhem.

Interessante isso. Acredita-se que um estudioso dedique anos de pesquisa e trabalho duro a produzir algo pelo qual não será pago, a não ser pela distinção de ser adotado nas escolas. Por que os funcionários do governo que lidam com cultura não abdicam de seus salários, já que a verdadeira cultura não pode ter preocupações materiais e o artista pode viver de brisa? Trabalhar para a cultura é isso, é ser filósofo e poeta aos olhos do grande público. Morrendo bêbado, tuberculoso e na sarjeta é ainda melhor, compõe o quadro romântico.

A interferência do Estado na elaboração, venda e circulação de livros e, acima de tudo, a tutela de seu uso, sua interpretação e sua avaliação não é mais nem autoritarismo, é totalitarismo fascistoide mesmo, é controle do pensamento. Mas moda é moda e, como ninguém reage, vão nos empurrando essas e outras goela abaixo, até o dia ideal em que não pensaremos mais, porque os pensadores certos já terão pensado tudo por nós. 

10 razões para se indignar

RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Uma pessoa indignada não é necessariamente raivosa. Indignar-se com a injustiça é estar alerta

Um pequeno livro, quase um panfleto, de 30 páginas, tornou-se a sensação literária na França neste Natal. O nome do autor, Stéphane Hessel, não explica o sucesso. Sua idade, 93 anos, muito menos. São dois os motivos para o livro sumir das prateleiras. O preço baixo, de € 3 (R$ 7). E o título provocativo, Indignez-vous (Fique indignado) . Por incitar os jovens ao não conformismo pacífico, Hessel virou uma celebridade pop. Lembra o candidato do PSOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio, de 80 anos.
Hessel nasceu em Berlim, de pai judeu escritor e mãe pintora. Foi para Paris aos 7 anos de idade. Na Segunda Guerra Mundial, lutou na Resistência contra o nazismo. Ajudou a redigir a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Suas causas hoje são o Estado palestino, o meio ambiente, os direitos dos imigrantes, a liberdade de imprensa e a batalha contra o mercado financeiro. “Meu fim não está muito longe”, escreve. “Desejo, a cada um de vocês, que tenham um motivo para se indignar. Isso é precioso.”
Uma pessoa indignada não é necessariamente raivosa. Indignar-se com a injustiça é estar alerta. “Os governos, por definição, não têm consciência”, escreveu o romancista Albert Camus, em 1954. Felizes são os homens e as mulheres que não aceitam passivamente os malfeitos dos governos e dos indivíduos. A indiferença nos faz menos humanos. A resignação pode nos tornar cúmplices.
Uma pessoa indignada não é necessariamente raivosa. Indignar-se com a injustiça é estar alerta
Reduzir a lista abaixo depende da vontade política da presidente eleita e da atitude pessoal de cada um de nós. Eis 10 razões para se indignar no Brasil:
o número de analfabetos funcionais na oitava economia do mundo. Uma contradição provocada pela contínua falta de prioridade na educação fundamental e na qualidade da instrução;
os absurdos privilégios dos deputados e senadores, que aprovam aumentos para si mesmos e, além do salário, dispõem de uma verba extra irreal. Com R$ 26 mil mensais, deveriam abrir mão das mordomias;
a influência excessiva da Igreja sobre o Estado laico brasileiro. Em assuntos como células-tronco, controle da natalidade ou descriminalização do aborto, por que a religião se sobrepõe a razões de saúde e ciência? Que se respeitem a fé e os ditames do Vaticano como opções individuais, mas não como condutores de políticas públicas;
a impunidade de assassinos confessos, como o jornalista Pimenta Neves. Com recursos em cascata permitidos por lei, quem tem dinheiro, prestígio e diploma se safa da prisão, mesmo depois de confessar crime hediondo e ser condenado por júri popular;
a agressividade no trânsito, que torna o Brasil recordista em mortes em acidentes. O antropólogo Roberto Da Matta acaba de escrever um livro sobre isso: “Dirigir com cautela no Brasil significa ser barbeiro, bobo e idiota”. Acelerar para assustar pedestres, fechar o outro veículo, entrar na vaga alheia, bloquear os cruzamentos, xingar. Não é assim no exterior;
a falta de educação da elite brasileira. Boa parcela de ricos desenvolve falta de educação associada à arrogância e à crença na impunidade. Joga lixo nas praias e da janela de carros importados, dá festanças ignorando a lei do silêncio, viola a legislação ambiental e sempre quer levar vantagem;
os impostos escorchantes, que não resultam em benefício para a população carente. Cartéis punem o consumidor e tornam produtos e passagens aéreas no Brasil muito mais caros;
a falta de sistema de saúde pública que dê dignidade a quem precisa e aos mais velhos. Gente morrendo em fila de hospital ou por falta de leitos e médicos é inaceitável. Quantas CPMFs o governo exigirá?;
a falta de política de habitação decente para os mais pobres, mesmo com tantos prédios públicos vazios;
a inexistência de transporte de massas, num país que fez opção equivocada pelo carro. Metrôs e trens, ligados a uma rede de ônibus sem ranço de máfias, deveriam transportar todas as classes sociais.
Indigne-se, mas não seja chato. Contribua para a mudança. Melhor ser um indignado otimista que um resignado deprimido. Boas festas.
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RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Sobre aprovação popular e auto-estima

Se Estatística é uma ciência para ser levada a sério estamos, de fato, diante de um fenômeno social inédito. Por intermédio dela pode-se mensurar o que o todo pensa por amostragens colhidas das diversas partes que lhe compõem.

O que ocorre, entretanto, é que o mosaico que se extrai de uma coleta feita com rigor científico tem que confirmar a realidade apresentada quando for rebatido no “noves fora” com outros levantamentos.

Um aparte para se falar de auto-estima  do brasileiro que Lula propaga ter sido o único que resgatou. De acordo com ele o sentimento de inferioridade acabou no seu governo. Permito-se, então, uma digressão entre auto-estima e aprovação de governo.

Por este entendimento, 83% das pessoas que dormiram nos aeroportos brasileiros ou tiveram problemas nos embarques, ou que perderam compromissos ou licitações ou concursos, estão errados em reclamar pois foi o presidente Lula que determinou destinações financeiras da INFRAERO para programas sociais ao invés de modernizar a infra-estrutura dos aeroportos. Da mesma fora politizou a ocupação de cargos na ANAC.

Também os 83% que sofreram com apagões, fornecimento de energia elétrica irregular e de baixa qualidade a preços exorbitantes e que perderam, eventualmente, motores de geladeiras, placas e circuitos integrados de computadores e televisores, dentre outros similares, tampouco têm o direito de reclamar, pois foi o governante com tal aprovação que nomeou um jornalista ao invés de um engenheiro elétrico e administrador público como  ministro de minas e energia demonstrando, assim, um dos mais escandalosamente explícitos casos de fisiologismo político já existente.

Da mesma forma 83% das pessoas que moram em mais de 50% dos lares brasileiros que não possuem saneamento adequado ou que não tem nenhum tipo de fossa, coleta ou escoamento de dejetos para ruas que, por sua vez, não têm rede de esgoto ou cidades sem centros de processamento de esgoto também se sentem excluídos mas fazem parte desse contingente que aplaude quem os mantêm em tal situação.

Também o que dizer dos 83% felizes apesar de não terem acesso à saúde pública de qualidade ou suscetíveis a surtos de epidemias ou que encontram medicamentos genéricos com preços quase próximos aos dos laboratórios de marca?

Podemos, ainda, inferir que 83% dos que ficam presos no trânsito durante chuvas torrenciais ou mesmo com constância de precipitação moderada ao longo do dia suficientes para produzir amplos alagamentos  ou tenham seus bens, móveis e automóveis arrastados por correntezas ou soterrados por deslizamentos também estão satisfeitos com a administração lulista.

Dentre o vergonhoso contingente de estudantes sem base educacional suficiente para lhes permitir disputar uma vaga no mercado de trabalho que hoje já importa estrangeiros melhores qualificados também, em tese, aprovam em 83% a administração que lhes priva de melhor educação ao permitir ideologia, fisiologismo político na indicação de órgãos responsáveis pela educação e cultura.

Há quase que uma miríade de realidades econômicas não tão alvissareiras saltando aos olhos mas que, com maestria, fica maquiada ou não tem evidência nos jornais e demais noticiários.

Faço parte de um discreto contingente que busca, no mínimo, coerência no que a administração pública promove e o que é percebido, ao menos pelo que é propalado por jornais e institutos que, eventualmente, se beneficiam de investimentos generosos do governo via comunicação social.

Em poucos meses quando a fartura de investimentos internacionais perderem seu ímpeto e os custos das alternativas econômicas aqui adotadas cobrarem sua fatura começará a haver uma percepção de que a tal da “herança maldita” dos governos anteriores fora tão forte que oito anos de gestão de vanguarda não lhes permitiu nos conduzir para fora do atoleiro. Afinal, tendo-se um contingente tão expressivo que acredita na maquiagem do marketing midiático, fica fácil se convencer sobre qualquer coisa sem muito esforço ou risco de questionamentos.

Enfim, entre desconfiar que tal índice é uma prosaica farsa e que o brasileiro que aprova sofre de uma irremediável crise baixa auto-estima aliado a de “apedeutismo crônico” para sofrer e ficar feliz que nem pintinho na bosta, prefiro a primeira hipótese.

Extraído de: ASSIM SOMOS

domingo, 26 de dezembro de 2010

Felicidade, onde estás?





A felicidade tão desejada pelo Homem está a tornar-se uma consumição. Uns descobrem a felicidade no ser e até em não ter muito e… outros pensam mais na felicidade igual a ter do que no ser.


O objectivo actual está em desviar-se para o conforto, prazer pessoal e imediato, quando o objectivo, realmente, aos olhos dos crentes só são felizes aqueles que descobrem a felicidade em pequenas coisas do dia a dia, não a procuram num lugar, num destino, na matéria, mas no desenvolvimento da consciência e não, no preço, no material, mas na descoberta da alegria, do gozo e da felicidade em coisas pequenas e humildes.


 Um programa de felicidade está nas palavras de Jesus proferidas no conhecido "Sermão da Montanha". A felicidade afinal não se procura, encontra-se; não está nas coisas, mas põe-se nas coisas; não está no destino, mas no caminhar e definitivamente é algo que se pode desenvolver porque depende de nós. A felicidade está no modo como nos empenhamos no trabalho do bem comum
A felicidade, portanto, está em ti. Não a procures às cegas e consulta a Bíblia em Mt 13,16; Lc 1, 45; Jo 20, 29; alguns perseguem a felicidade, outros criam-na (ditado popular); a felicidade está em ti quando fazes feliz alguém, os outros; quando vives para os outros e a pensar nos outros; quando perdoas, ou perdes e procuravas ganhar dinheiro

Felicidade, dizia S. José maria Escrivã: "A relativa e pobre felicidade do egoísta que se encerra na sua torre de marfim, na sua própria carcaça..., não é difícil de conseguir neste mundo. - Mas a felicidade do egoísta não é duradoira." "Quererás perder, por essa caricatura do céu, a felicidade da Glória, que não terá fim?" "Quero-te feliz na Terra. - Não o serás se não perderes esse medo à dor. Porque, enquanto "caminhamos", na dor está precisamente a felicidade."

"A aceitação rendida da Vontade de Deus traz necessariamente a alegria e a paz; a felicidade na Cruz. - Então é que se vê que o jugo de Cristo é suave e que o seu peso é leve."

Um dia perguntaram a Dalai Lama : “ o que mais o surpreendia na Humanidade?” E ele respondeu que era o homem porque é o animal que perde a saúde para juntar dinheiro, gasta o dinheiro para recuperar a saúde. Não ficando por aí, acrescentou:” Pensa tão ansiosamente no futuro que esquece o presente e acaba por não viver nem o presente, nem o futuro.


Perguntar onde está a felicidade é um absurdo porque se a procuras ela está em ti


Isto é uma decisão de aceitares Jesus Cristo como Senhor da sua vida, pois Ele disse: "Eu sou o caminho a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai, senão por mim". Aceite-o e terás a verdadeira felicidade de vida aqui e para a eternidade.
Recebi de Minha amiga: Anadir Zanatta pelo msn
 
 
O caminho para a felicidade!