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NÃO DEIXE A FELICIDADE, ENCONTRE-Á, PERTO ESTA DE VOCÊ!

domingo, 3 de julho de 2011

A PERSISTÊNCIA

Um homem investe tudo o que tem numa pequena oficina. Trabalha dia e noite, inclusive dormindo na própria oficina. Para poder continuar nos negócios, empenha as jóias da própria esposa. 

Quando apresentou o resultado final de seu trabalho a uma grande empresa, dizem-lhe que seu produto não atende ao padrão de qualidade exigido. 

O homem desiste? Não! 

Volta a escola por mais dois anos, sendo vítima da maior gozação dos seus colegas e de alguns professores que o tachavam de 'visionário'. 

O homem fica chateado? Não! 

Após dois anos, a empresa que o recusou finalmente fecha contrato com ele. 

Durante a guerra, sua fábrica é bombardeada duas vezes, sendo que grande parte dela é destruída. 

O homem se desespera e desiste? Não! 

Reconstrói sua fábrica mas, um terremoto novamente a arrasa. 

Essa é a gota d'água e o homem desiste? Não! 

Imediatamente após a guerra segue-se uma grande escassez de gasolina em todo o país e este homem não pode sair de automóvel nem para comprar comida para a família. 

Ele entra em pânico e desiste? Não! 

Criativo, ele adapta um pequeno motor a sua bicicleta e sai as ruas. Os vizinhos ficam maravilhados e todos querem também as chamadas 'bicicletas motorizadas'. A demanda por motores aumenta muito e logo ele fica sem mercadoria. 

Decide então montar uma fábrica para essa novíssima invenção. Como não tem capital, resolve pedir ajuda para mais de quinze mil lojas espalhadas pelo país.

Como a idéia é boa, consegue apoio de mais ou menos cinco mil lojas, que lhe adiantam o capital necessário para a indústria. 

Encurtando a história: hoje a Honda Corporation é um dos maiores impérios da indústria automobilística japonesa, conhecida e respeitada no mundo inteiro.

Tudo porque o Sr. Soichiro Honda, seu fundador, não se deixou abater pelos terríveis obstáculos que encontrou pela frente. 

Portanto, se você adquiriu a mania de viver reclamando, pare com isso! O que sabemos é uma gota d'água. O que ignoramos é um oceano. 

Lembre-se, nosso dia não se acaba ao anoitecer e sim começa sempre amanhã, não se desanime, vamos acordar todo dia como se tivéssemos descobrindo um mundo novo. 




De:Neuda Carvalho (neudacarvalho@hotmail.com) 

sexta-feira, 25 de março de 2011

HORA DO PLANETA: Enganando Quem?


Não tenho dúvidas sobre a gravidade da crise climática e da falta de recursos.

Mas apagar a luz por 1 hora e achar que isso muda alguma coisa, sentir-se bem com o "dever cumprido" e depois tudo continuar na mesma - é algo além da minha compreensão.

Para a hora do planeta, pergunte-se:
  • Tá ajudando em algo?
  • Para quê isso então?
  • Tá enganando quem?
  • Não tem nada melhor para fazer?
  • Que tal ler mais, se informar mais, mudar hábitos ruins, tomar alguma iniciativa útil no seu trabalho, na sua casa?

Isso, é claro, se você estiver REALMENTE bem-intencionado...

Veja os posts:

Hora do Planeta ou da Hipocrisia?

Hora do Planeta: Apagando a Culpa?


quinta-feira, 24 de março de 2011

Não acredite em tudo o que você pensa: Os 6 erros básicos que fazemos ao pensar


"Erro 1 - Nós preferimos histórias a estatísticas.

Erro 2 - Nós buscamos confirmar e não questionar nossas idéias.

Erro 3 - Raramente levamos em consideração o papel do acaso e da coincidência na formação de eventos.

Erro 4 - Nós, de vez em quando, percebemos erroneamente o mundo à nossa volta.

Erro 5 - Tendemos a simplificar demais nossas idéias.

Erro 6 - Nossa memória é com freqüência imprecisa.


Esses não são os únicos erros, mas procurando evitá-los teremos mais chances de distinguir o que é verdadeiro daquilo que não é."

Vi no blog do Rafael Reinehr, trecho do livro do Thomas E. Kida.

terça-feira, 22 de março de 2011

Observar e Pensar


O primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é aprender a observar. Só que isso, infelizmente, não é ensinado. Hoje nossos alunos são proibidos de observar o mundo, trancafiados que ficam numa sala de aula, estrategicamente colocada bem longe do dia-a-dia e da realidade. Nossas escolas nos obrigam a estudar mais os livros de antigamente do que a realidade que nos cerca. Observar, para muitos professores, significa ler o que os grandes intelectuais do passado observaram – gente como Rousseau, Platão ou Keynes. Só que esses grandes pensadores seriam os primeiros a dizer "esqueçam tudo o que escrevi", se estivessem vivos. Na época não existia internet nem computadores, o mundo era totalmente diferente. Eles ficariam chocados se soubessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo que os cerca e obrigados a ler teoria escrita 200 ou 2.000 anos atrás – o que leva os jovens de hoje a se sentir alienados, confusos e sem respostas coerentes para explicar a realidade.

Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário. Sou a favor de observar primeiro, ler depois. Os livros, se forem bons, confirmarão o que você já suspeitava. Ou porão tudo em ordem, de forma esclarecedora. Existem livros antigos maravilhosos, com fatos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser dosados com o aprendizado da observação.

Ensinar a observar deveria ser a tarefa número 1 da educação. Quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas da simples observação, auxiliada talvez por novos instrumentos, como o telescópio, o microscópio, o tomógrafo, ou pelo uso de novos algoritmos matemáticos. Se você tem dificuldade de raciocínio, talvez seja porque não aprendeu a observar direito, e seu problema nada tem a ver com sua cabeça.

Ensinar a observar não é fácil. Primeiro você precisa eliminar os preconceitos, ou pré-conceitos, que são a carga de atitudes e visões incorretas que alguns nos ensinam e nos impedem de enxergar o verdadeiro mundo. Há tanta coisa que é escrita hoje simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que dissemina essa idéia, o que é assustador. Se você quer ter uma visão independente, aprenda correndo a observar você mesmo. 

Sou formado em contabilidade e administração. A contabilidade me ensinou a observar primeiro e opinar (muito) depois. Ensinou-me o rigor da observação, da necessidade de dados corretamente contabilizados, e também a medir resultados, a recusar achismos e opiniões pessoais. Aprendi ainda estatística e probabilidade, o método científico de chegar a conclusões, e finalmente que nunca teremos certeza de nada. Mas aprendi muito tarde, tudo isso me deveria ter sido ensinado bem antes da faculdade. 

Se eu fosse ministro da Educação, criaria um curso obrigatório de técnicas de observação, quanto mais cedo na escala educacional, melhor. Incentivaria os alunos a estudar menos e a observar mais, e de forma correta. Um curso que apresentasse várias técnicas e treinasse os alunos a observar o mundo de diversas formas. O curso teria diariamente exercícios de observação, como: 

1. Pegue uma cadeira de rodas, vá à escola com ela por uma semana e sinta como é a vida de um deficiente físico no Brasil.

2. Coloque uma venda nos olhos e vivencie o mundo como os cegos o vivenciam. 

3. Escolha um vereador qualquer e observe o que ele faz ao longo de uma semana de trabalho. Observe quanto ele ganha por tudo o que faz ou não faz. 

Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz "vamos parar de discutir", no sentido de pensar e tentar "ver" o problema de outro ângulo? Quantas vezes a gente simplesmente não "enxerga" a questão? Se você realmente quiser ter idéias novas, ser criativo, ser inovador e ter uma opinião independente, aprimore primeiro os seus sentidos. Você estará no caminho certo para começar a pensar. 

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Revista Veja, Editora Abril, edição 1865, ano 37, nº 31, 4 de agosto de 2004, página 18

sábado, 19 de março de 2011

Diga não ao big brother

Quem deseja o bem e o futuro honrado do Brasil deve difundir esta 
mensagem...
A Globo precisa saber que existem brasileiros inteligentes e honrados
nesta terra...
Palmas para o nosso corajoso cronista... 
 
Crônica de Luiz Fernando Veríssimo sobre o "BBB"
 
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB),
produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição
do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser
difícil, encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho
atentado à nossa modesta inteligência.
 
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu
fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo,
principalmente pela banalização do sexo. O BBB 11 é a pura e suprema
banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado
dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa, a casa dos
“heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra
gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza
ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 10 é a
realidade em busca do IBOPE..
 
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 10. Ele prometeu
um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas
parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
 
Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do
“zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o
negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou
piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta,
a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM
que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).
 
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e
escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro
de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível.
Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente
bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se
morrer tão cedo.
Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte
da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da
dignidade.
 
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro
repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e
meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente,
chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
 
São esses nossos exemplos de heróis?
 
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros,
profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os
professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores
incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com
dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
 
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida
por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a
isso, todo santo dia.
 
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças
complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais
saudável e digna.
 
Heróis, são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs,
voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de
carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna
heroína, Zilda Arns).
 
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam
suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como
mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede 
Globo.
 
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não
acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos
telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro
estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à
criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e
moral.
 
 E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a
"entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
 
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da
Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de
pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta
centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e
setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil


reais a cada paredão.
 
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia
se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia,
alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
 
(Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de
5.000 computadores!)
 
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e
indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário
Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema....,
estudar.... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... ,
telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar...., brincar
com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir
o que ainda
 resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.

Você conhece a pessoa que ama?

Em busca de necessidades latentes e inerentes ao ser humano, como o afeto, o prazer e a companhia, as experiências amorosas fazem do indivíduo um eterno perseguidor do amor ideal. Mas, será mesmo que conhecemos essas pessoas que passam pelas nossas vidas e as quais acreditamos amar? 

No mundo dos relacionamentos afetivo-passionais, existem relações rápidas ou ocasionais que nos ensinam pouco sobre o amor. Existem outras, duradouras, que acrescentam mais lições. Mas aprendemos mesmo é com os relacionamentos intensos que duram muito ou pouco tempo. Na verdade, não existe uma fórmula pronta para que o amor reine absoluto entre dois seres que afirmam "amarem-se". A regra básica ou simples orientação natural, é a do conhecimento mútuo permanecer acima dos interesses egocêntricos da demanda individual. 

No entanto, a expectativa que predomina a cada novo relacionamento, é ambos buscarem o suprimento de amor que lhes falta, ou seja, a compreensão, o afeto, a satisfação e a completude. Expectativa que, geralmente, provoca frustração em decorrência da imaturidade emocional de quem procura inconscientemente no outrem, somente "receber" e não "dar" o que este necessita. 

Ora, não existindo uma troca entre o "dar e receber", o amor incompreendido por ambos,  transforma-se numa relação superficial, cujo principal objetivo é a satisfação de necessidades primárias. 

Num relacionamento de proposta amorosa, se não houver a vontade -e a necessidade manifesta- de conhecer o outrem: seus medos, angústias, fraquezas, virtudes, entre outros, a relação torna-se superficial e inclinada ao fracasso por atender a demanda egocêntrica de cada um. Se não houver conhecimento mútuo, não há compreensão. Se não existir compreensão, inexistem valores que possam qualificar essa relação e levar os envolvidos a um amor emocional e espiritualmente maduro. 

A experiência tem demonstrado que muitos casais que vivem juntos passam a vida inteira como se fossem desconhecidos. Situação geradora de crises de relacionamento que se acumulam pela imposição de egos que não cedem à conquista, à compreensão e ao conhecimento do outrem. Tornam-se pela rigidez egocêntrica, egos resistentes a aprendizados que levam o indivíduo a uma visão mais profunda do amor nas relações afetivas. 

O egocentrismo infantil, herança de um espírito ainda imaturo na compreensão do amor, e reforçado na relação empobrecida com os pais ou substitutos da vida atual, é responsável pela grande maioria das crises ou separações de casais. A necessidade da satisfação narcísica em detrimento do amadurecimento emocional e de conhecimento do outrem, faz das relações afetivo-passionais, umainterdependência afetiva de característica obsessiva ou uma simples convivência entre desconhecidos em que somente o processo de autoconhecimento - via psicoterapia individual ou terapia de casais - poderá ajudar. 

Amar exige a intensidade dos amantes apaixonados, mas também exige a intensidade da descoberta do outro pelo conhecimento do que este representa na sua integridade psíquico-espiritual-emocional, porque as afinidades que levam os amantes ao amor que une e completa, passa pela libertação dos aspectos tirânicosdo ego. 

Por força da cultura ocidental, que hipervaloriza o sexo na relações amorosas, esquecemos que não é só de sexo e prazer que evolui um relacionamento. Além das conquistas materiais e satisfação sexual que são ingredientes importantes na receita da convivência saudável, as relações crescem com o desenvolvimento de valores que dizem respeito ao companheirismo e à espiritualidade do casal. 
Não esqueçamos que o contexto "amar" representa uma gama de aprendizados que adquirimos não em uma única vida, mas em muitas vidas do ser imortal. 
Portanto, acima de tudo, amar é receber e dar. É conhecer, compreender e aceitar. É abdicar dos exageros do ego em benefício do amor fortalecido pelo mútuo conhecimento e pelo desapego gradual do materialismo observado como uma verdade única e incontestável. O amor, na verdade, é o carro-chefe da felicidade, e para sermos felizes no amor é preciso conhecê-lo, porque conhecendo-o, despertamos para um sentimento profundo, verdadeiro.........................

sábado, 12 de março de 2011

Quanta violência! Por quê?

DOM ODILO P. SCHERER
O Estado de S.Paulo


Notícias chocantes sobre atos violentos se multiplicaram nas últimas semanas: é filho que degola os pais, jovem que chega ao bar, ferindo e matando porque alguém mexeu com a namorada, mulher que mata a filhinha do amante, motorista que lança o carro sobre ciclistas em passeata pela rua; são adolescentes que matam a coleguinha rival no primeiro amor... E os casos poderiam continuar, é só seguir o noticiário de cada dia.

Não se trata da violência da guerra, de grupos de extermínio ou do crime organizado: é violência comum, da vida privada, por motivos fúteis. E nem é por que há muita arma de fogo na mão do povo: um veículo, uma faca de cozinha e até um cadarço podem virar armas letais, quando a vontade é assassina!

A ação das autoridades de segurança e os rigores da lei não assustam nem impedem os crimes. Muita tensão nas relações sociais e motivos banais levam a perder a cabeça, a fazer justiça com as próprias mãos e a cometer as maiores violências contra o próximo. E corremos todos o risco de nos habituarmos com notícias e imagens brutais, com a mesma indiferença sonolenta com que assistimos a cenas de um filme. A realidade se funde com a ficção e mal caímos na conta de que, nesses casos, a morte e a dor são reais. Como explicar tanta violência no convívio social?

Deixemos aos estudiosos do comportamento humano a análise do fenômeno. Desejo refletir sobre algo que me parece estar na base desses fenômenos.

Os fatos denotam uma radical desconsideração pela dignidade da pessoa humana, pelos seus mais elementares direitos e pelos valores éticos que devem orientar as decisões na vida. O violento, ferindo ou matando uma pessoa, também legitima a violência, de modo implícito, também contra si próprio, pois ela pode voltar-se contra o autor dessa ação. E, se isso não lhe importa, significa que ele não tem consideração pela sua dignidade pessoal nem amor pela própria vida. Ou tem a presunção de levar sempre a melhor, e aí estaríamos diante do estágio mais primitivo do desenvolvimento humano, em plena lei da selva.

A violência é dos brutos e denota uma lamentável inconsciência diante da dignidade da pessoa, dos seus direitos fundamentais. É ausência de sensibilidade, ou desprezo pelos valores básicos da conduta.

Alguém logo apontará para a urgência de um rigor maior da lei e para a ação mais eficaz das autoridades que a representam e aplicam.

Todos esperam, certamente, que os responsáveis cumpram o seu dever e as leis sejam mais conhecidas e respeitadas, porém não é por falta de leis que os crimes acontecem. E, se a grande garantia para a inibição do crime fosse a autoridade que representa a lei, estaríamos muito mal e não haveria policiais em número suficiente para vigiar todos os potenciais criminosos. A ausência da autoridade encarregada da aplicação lei não legitima o crime.

O alastrar-se da violência está sinalizando para uma desorientação cultural, em que há pouca adesão a referenciais éticos compartilhados, ou mesmo a falta deles. Valores altamente apreciáveis, como a vida humana, a dignidade da pessoa, o bem comum, a justiça, a liberdade e a honestidade caem por terra quando outros "valores" lhes são sobrepostos, como a vantagem individual a qualquer custo, a satisfação das paixões cegas, como o ódio, a avareza, a luxúria, a vaidade egocêntrica...

Princípios éticos tão elementares quanto essenciais, como "não faças aos outros o que não queres que te façam", ou os da inviolabilidade da vida humana, do respeito pela pessoa, do senso da justiça e da responsabilidade compartilhada perdem cada vez mais seu espaço para algo que se poderia qualificar como "pragmatismo individualista sem princípios".

Se cada um elabora os referenciais para seu agir de acordo com os impulsos das paixões, as conveniências ou ganhos do momento, perdemos os referenciais comuns da conduta no convívio social.

Chegamos a isso por muitos fatores, mas alguns me parecem importantes. A conduta reta, ou o seu contrário, depende da educação; virtude e vício têm mestres e currículos próprios. Valores e princípios são ensinados e apreendidos; e a inteligência humana é capaz de reconhecê-los, de distinguir entre o que é bom e o que é mau. Por sua vez, a consciência pessoal e a vontade, quando bem esclarecidas e motivadas, inclinam-se para o bem e rejeitam o mal.

A lei exterior, por si, é constritiva, porque vem acompanhada pela ameaça, não muito eficaz, do castigo e da pena. Eficácia maior da lei é garantida pela adesão interna e livre ao valor protegido por ela. É a lei moral inscrita no coração, da qual fala o filósofo Immanuel Kant. E já falava a Bíblia (cf Sl 37,31; Jr 31,33).

Creio que aqui há muito para se fazer. Sabemos que, atualmente, os tradicionais agentes de educação, como a família, a escola e as organizações religiosas, estão conseguindo fazer isso de maneira muito limitada e seu papel na educação é até dificultado, quando se dedicam a fazê-lo.

Por outro lado, há uma progressiva desconstrução dos referenciais éticos da conduta pessoal e coletiva. E contribuem para a erosão dos valores e para a desorientação da ética no convívio social a exaltação dos "heróis bandidos" e do "valentão mau caráter"; a espetacularização da violência; o mau exemplo que vem do alto; a impunidade, que leva a crer que o crime compensa; e também a exploração econômica da corrupção dos costumes e a capitulação do poder constituído diante do crime organizado, que ganha muito dinheiro com o comércio letal da droga.

O alastrar-se da violência gratuita é uma consequência natural.

CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

Mundo ao Avesso - Eduardo Galeano


Vi no blog do Rafael Reinehr.


"Caminhar é um perigo e respirar é uma façanha nas grandes cidades do mundo ao avesso.

Quem não é prisioneiro da necessidade é prisioneiro do medo: uns não dormem por causa da ânsia de ter o que não têm, outros não dormem por causa do pânico de perder o que têm.

O mundo ao avesso nos adestra para ver o próximo como uma ameaça e não como uma promessa, nos reduz à solidão e nos consola com drogas químicas e amigos cibernéticos.

Estamos condenados a morrer de fome, morrer de medo ou a morrer de tédio, isso se uma bala perdida não vier abreviar nossa existência."

"O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o recomenda.

Em sua escola, escola do crime, são obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação."

(Eduardo Galeano, "De Pernas para o Ar - A Escola do Mundo ao Avesso")

Navegue, descubra tesouros

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles ela.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe. Elas só podem brilhar no céu. Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não o deixe ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega a parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não o deixe viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
De um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!

Autor desconhecido:

A auto-estima de nossos filhos




Uma semana depois de minha esposa e eu decidirmos começar uma família, entramos numa livraria e compramos dois livros sobre como educar filhos. Por uma série de razões os dois filhos só nasceram seis anos depois e acabamos lendo não dois, mas 36 livros. Se dependesse de teoria, estávamos preparados. Hoje eles estão crescidos e um amigo me perguntou que livros nós havíamos utilizado mais. Foi uma boa pergunta que demorei a responder. Usamos um livro só, um que educava mais os pais do que os filhos. Intitula-se 'A Auto-estima do seu filho' de Dorothy Briggs, e o título já diz tudo.

A tese do livro é como agir para nunca reduzir a auto-estima do seu filho: elogiá-lo freqüentemente , ouvir sempre suas pequenas conquistas, festejar as suas pequenas vitórias, nunca mentir ou exagerar neste intento, em suma mostrar a seus filhos seu verdadeiro valor. Ao contrário do que defendem os demais livros, não é uma boa educação, nem disciplina, nem muito amor e carinho, ou uma família bem estruturada que determinam o sucesso de nossos filhos, embora tudo isto ajude.

A sacada mais importante do livro, no nosso entender, foi a constatação que filhos já nascem com uma elevada auto-estima, e que são os pais que irão sistematicamente arruiná-la com frases como: 'Seu imbecil!', 'Será que você nunca aprende?', 'Você ficou surda?'. Jean Jacques Rousseau errou quando disse que "o homem nasce bom, mas é a sociedade que o corrompe". São os próprios pais que se encarregam de fazer o estrago.

Por exemplo: você, pai ou mãe, chega do trabalho e encontra seu filho pendurado na cadeira: 'Desça já seu idiota, vai torcer o seu pescoço'. Para Dorothy, a resposta politicamente correta seria 'Desça já, mamãe tem medo que você possa se machucar'. Primeiro porque seu filho não é um idiota, ele assume riscos calculados. Segundo são os pais, com suas neuroses de segurança, que têm medo de cadeiras.

Quando nossos dois filhos começaram a aprender a pular, entre três e quatro anos de idade, desafiava-os para um campeonato de salto a distância. Depois de algumas rodadas, seguindo a filosofia do livro, deixava-os ganhar. Ficavam muito felizes, mas qual não foi a minha surpresa quando na sétima ou oitava rodada, eles começavam a me dar uma colher de chá, deixando que eu ganhasse. Que lição de cidadania: criança com boa auto-estima não é egoísta e se torna solidária.

Eu não tenho a menor dúvida de que os problemas que temos no Brasil em termos de ganância empresarial, ânsia em ficar rico a qualquer custo que leva à corrupção, advêm de um pai ou uma mãe que nunca se preocuparam com a auto-estima de seus filhos.

Eu acho que políticos, professores e intelectuais, na maioria desesperados em se autopromover, jamais darão dar oportunidades para outros vencerem, como até crianças de três anos são capazes de fazer. A fogueira das vaidades só atinge os inseguros com baixa auto-estima.

Alguns pais fazem questão até de vencer seus filhos nos esportes para acostumá-los às agruras da vida, como se a vida já não destruísse a nossa auto-estima o suficiente.

A teoria é simples, mas a prática é complicada. Uma frase desastrada pode arruinar o efeito de 50 elogios bem dados. 'Meu marido queria que o segundo fosse um menino, mas veio uma menina'. Imaginem o efeito desta frase na auto-estima da filha. Portanto, quanto mais cedo consolidar a auto-estima melhor.

Esta tese, porém, tem seus inconvenientes. Agora que meus filhos são muito mais espertos, inteligentes e observadores do que eu, tenho que ouvir frases como: 'É isto aí Pai', 'Faremos do seu jeito, pai', tentativas bem-intencionadas de restaurar a minha abalada auto-estima.

Stephen Kanitz é pai e também administrador de empresas

Publicado na Revista Veja edição 1 650 de 3 de maio de 2000

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Veríssimo: "Dez coisas que levei anos para aprender"

Luís Fernando Veríssimo


Publicada por Vitor Marques



1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas. 

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance. 

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca. 

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida. 

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite. 

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual A raça humana ainda não atingiu todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões". 

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental". 

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito. 

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic
.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"Aprendi" - William Shakespeare

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Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.
Que posso usar o meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.
Eu aprendi...Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida.
Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.
Aprendi que perdoar exige muita prática.
Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.
Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.
Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério.
E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.”

Eu aprendi...
...que ignorar os fatos não os altera; 
Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você; 
Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas; 
Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;
Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda; 
Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu. 
Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar; 
Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito; 
Eu aprendi...
...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a; 
Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cristaleiras

O antropólogo e filósofo de renome  internacional nos brinda com uma sutil e profunda reflexão acerca de nossa risível percepção de sociedade e cidadania.
Vale muito a pena ler e refletir.


Cristaleiras
Roberto DaMatta
O Globo 

Nosso universo social se divide em bens e serviços e, na categoria dos bens, há os móveis e os imóveis. Os primeiros vão da camisa (que, dizem os sábios, só precisamos de uma unidade para sermos felizes) ao automóvel, a casa e a conta bancária que fala daquilo que permeia - como as orações no mundo religioso e o favorecimento partidário no político - tudo. Sobram, é claro, os "móveis" que fabricam a paisagem da casa e são o foco ou a imagem central - símbolos como diriam Geertz, Victor Turner ou Lévi-Strauss - do que chamamos de "propriedade privada". Pois quase sempre começamos nossas vidas de casados comprando os móveis (a cama e a mesa) da casa para depois completarmos o seu interior com poltronas, armários, aparadores, guarda-roupas, criados-mudos e esse objeto impar e, até onde vai minha enorme ignorância e vã e superada antropologia, as cristaleiras. 

Eu só tive consciência desse móvel quando fui aos Estados Unidos e verifiquei que os americanos davam mais valor às suas vastas e confortáveis poltronas e estantes do que a esse repositório de "cristais", situado justamente num local de destaque nas salas de jantar ou em outros espaços nobres das residências. Ali, conforme num certo dia nebuloso, perdido no vasto labirinto da minha memória, mamãe (e não papai que estava mais ligado na primeira gaveta do seu guarda-roupa, a única trancada e com direito a chave de nossa casa) dissertou sobre cristais da Baviera e da Boêmia, pegando com extremo cuidado terrinas e xícaras de chá tão finas quanto papel, que teriam vindo da China e seriam a única herança de vovó Emerentina. Uma herança obviamente passada por linha materna (de mães para filhas) tal como canetas, relógios e revólveres passavam de pai para filho. Um belo exemplo de descendência paralela que, por motivos que não posso detalhar aqui, faz parte da minha vida intelectual. 

O fato é que na América sempre tocquevileana não existiam essas um tanto ostensivas cristaleiras feitas de vidro e espelhos, um móvel que lembra uma catedral, uma caixa de joias e os cetins que envelopavam (revelando, contudo) o corpo das mulheres. Objeto destacado da casa a ser visto, admirado e eventualmente aberto com extremo cuidado para visitantes ilustres ou ocasiões preciosas como aniversários, mortes e casamentos - os grandes ritos de passagem que marcam as nossas vidas. Dir-se-ia que a vida marcada pelo ascetismo laico calvinista e pela religiosidade cívica rousseauneana bloqueava essas demonstrações ostensivas de coisas preciosas, já que, para eles, o viver para dentro era mais importante do que essa vida cristalizada para os outros (sobretudo para as visitas importantes ou de maior prestígio), como é o nosso caso. Vi muitas cristaleiras na minha infância e juventude e, quando casei, compramos a nossa, que imitava o móvel dos nossos lares de origem. Nossa cristaleira foi inaugurada com um singelo conjunto de cinco pequenas taças de cristal da Boêmia de tonalidade vermelha e hastes leves e delicadas como as pernas das bailarinas. Taças que, com o devido elixir (no caso, o vinho do Porto) ajudam a produzir esses sonhos que são a matéria de nossas existências. 

Um dia, numa discussão acalorada entre professores mais velhos, ouvi de um deles o seguinte: "O Fulano procede como um macaco em cristaleira!" Jamais ouvi definição melhor daquele colega que por qualquer coisa, usava um canhão para matar um passarinho e fazia uma tempestade num copo d"água, numa descalibragem tão recorrente nos sistemas autoritários, de Estado forte, nos quais a cleptomania se legitima em cleptocracia como faz prova hoje em dia a nossa elite política enriquecida e, mais que isso, aristocratizada com o dinheiro dos nossos impostos que segue diretamente não para obras públicas, mas para as suas cristaleiras. 

Nas casas tradicionais do Brasil, as cristaleiras representavam - ao lado do branco dos vestidos das noivas e da limpeza impecável da casa - a pureza das mulheres; e a mulher como símbolo maior da pureza. Como figura situada entre os anjos e os homens, por contraste com as que (sem casa e cristaleira) dialogavam com as forças satânicas que, entretanto, permitiam o teste e demonstravam a existência desse dom complexo chamado de "liberdade" que nos foi dado por Deus na forma do livre arbítrio. Dom sem o qual faria com que tudo fosse determinado e justificado, tirando o mérito das escolhas e impedindo que o mundo tivesse significado. Pois o problema não é a cristaleira, mas a inefável transparência que a constitui, deixando ver em dobro tudo o que colocamos dentro dela

No plano coletivo, sou inclinado a sugerir que a cristaleira de um país é o seu governo e, no seu governo, o seu ParlamentoA tal transparência tão invocada pelos mais atrasados coronéis que hoje mandam na nossa riqueza, gastando-a com nomeações de partidários e familiares.Transparência que é, de fato, uma mera palavra de ordem para encobrir os moveis de chumbo de um Brasil sem crítica, sem contraditório político, sem - enfim - igualdade e transparência. Esse translúcido móvel feito em vidro e espelho que permeava as casas que, como a República e a Democracia, guardava pureza, honra, compaixão e uma honestidade que sumiram da política nacional.